terça-feira, 31 de maio de 2016

O gato do meu vizinho

Paris, mês de Maio

Uau! Já se passaram alguns meses e faz tempo que eu não escrevo. Mas é que aqui o tempo passa voando... Mentira! O tempo passa muito devagar, isso sim, ainda mais para uma simples estudante como eu. E, sinto falta do estresse cotidiano, sabe? De estar presente nos barracos da família, de reclamar que um amigo sempre chega atrasado nos compromissos, de poder gritar no ônibus “Vai descer”, de comer coisas simples como brigadeiro, coxinha, feijoada... E também, que saudade da área de serviço. Área de serviço? Isso mesmo, gente! NÃO EXISTE ÁREA DE SERVIÇO AQUI. Agora, você imagina, onde vou lavar aquele sapato sujo ou esfregar aquela camisa branca, se aqui não existe o tanque da tão simples área de serviço? A resposta é: NO BANHEIRO!
Gente, é bizarro! A máquina de lavar roupa fica no banheiro! Eu confesso que ainda não me habituei a isso. Aqui, além de tomar banho e fazer as necessidades no mesmo lugar, você ainda tem que lavar a roupa. Às vezes estou no banheiro e a máquina começa a centrifugar. Ela gira mais rápido que a velocidade da luz e faz um barulho sinistro. Gente, que medoooo! O negócio é assustador, parece que vai explodir e todas as peças irão voar.

Outra coisa sinistra no meu banheiro: há um cano que vai do chão ao teto. Não, não é um objeto para fazer poli dance, é o cano onde passam todas as substâncias banheirísticas dos meus vizinhos de cima. É isso mesmo que você não quer pensar: o cocô e o xixi dos meus vizinhos de cima passam pelo meu banheiro, e consequentemente tudo que sai do meu banheiro também passa no andar de baixo. Quem diria que a melhor coisa num prédio sem elevador é morar no último andar, hein? Por que raios o cano não é do lado de fora, gente? Me disseram que por conta da temperatura fria, tudo congelaria e o cano ficaria entupido. Será possível? Algum físico ou engenheiro de plantão para me explicarem tamanha incoerência?

Continuando a citar os meus vizinhos, existem dois gatos aqui no prédio. Não, não são os vizinhos que são gatos, são os gatos que pertencem aos vizinhos (sou uma mulher casada, lembram?). Um é branco e o outro é preto. O fato é que eles sempre me assustam. Imagina você chegando, abrindo uma porta que parece de casa mal assombrada, (é grande, velha e range) naquele breu, e quando as luzes automáticas acendem, um gato preto te olha fixamente! E o gato branco faz isso nas escadas. Ele pula em direção à porta para sair, isso é, NA MINHA DIREÇAO. Porque eles fazem isso na mesma hora que as luzes acendem? Eu estou criando uma tática para ser menos assustada. Entro aqui no prédio de costas até as luzes acenderem. Fico ridícula andando de ré, mas pelo menos os sustos diminuíram. Acredito que tive sucesso!

Voltando a falar sobre minha casa, é engraçado perceber como alguns detalhes mudam bastante nosso cotidiano. Aqui não tem área de serviço e as pessoas secam suas roupas em máquinas de secar, ou em varais portáteis, ou nas lojas que se pagam para lavar e secar as roupas. Outra coisa diferente é a questão da garagem. Pouquíssimas casas ou apartamentos possuem garagem. Então, a maioria dos veículos fica na rua, e aqui parar na rua TEM CUSTO. Você pode deixar o carro em frente à sua casa, mas terá que pagar por isso. Pode pagar mais barato, porque é sua casa, mas ainda sim tem que pagar. É como se tivesse zona azul em toda a cidade. As taxas não são exorbitantes como no Brasil, mas, são taxas. O que eu penso? Que ter um carro por aqui pode ser bem caro. E é!  O que resta, então? Bora utilizar o Mercedes de motorista quase particular, ou então o metrô cheiroso daqui com suas pequenas escadas (só pra constar, há algumas ironias nesta última frase).


Em resumo, luxo por aqui não é morar na cobertura, e sim num lugar onde os gatos não te assustem, e que tenha área de serviço, garagem e cano de excrementos invisível (e também inodoro!)

Se eu descobrir mais algum detalhe, volto aqui para te contar!
Au revoir et bisou!

Hívina