quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A sacola de cabelo

Paris, sexta semana

Bonjour, gente!
Estou de volta! Essas duas últimas semanas foram bem corridas porque mudamos de casa e também porque comecei meu curso de francês.
Nossa mudança durou incrivelmente 1h30 minutos. Isso mesmo! Acho que foi o recorde das mudanças. Nossas malas e caixas eram compostas basicamente de roupas, utensílios de cozinha e... PARTITURAS do Samuel!!!
Depois de casar eu descobri que meu marido é um acumulador. Mentira! Eu já sabia antes de casar, então não foi como descobrir da sacola de cabelo no fundo do guarda-roupa (explicarei essa história no parágrafo abaixo). Samuel guarda tudo e tem dificuldade de se desfazer de coisas antigas ou sem uso atual. Essa é a minha análise, mas ele vai negar, é claro! Acho que ele pensa: “Vai que um dia a gente precise de...” Isso é engraçado e muitas vezes ele tem razão. Esse negócio de ter “desapego” é complicado! O que é realmente uma necessidade? Uma necessidade hoje pode não ser uma necessidade amanhã e vice-versa. Mas e se a necessidade de ontem, que não é mais necessidade hoje, virar uma necessidade em 2020? O que a gente faz com as coisas, então? Desapega ou guarda?

Sobre a questão da sacola de cabelos, eu explico agora. Um dia assisti um filme com a Drew Barrymore e o Jimmy Fallon, que se chama “Amor em Jogo”. Drew é a mocinha, que conhece o Jimmy (mocinho) e eles se apaixonam. Ela fica encantada com ele e achando que está “tudo muito bom para ser verdade”. Ela tem essa sensação mas segue em frente e tenta o relacionamento. O personagem do Jimmy é apaixonado pelo Boston Red Sox, um time de basebol, e ele é daqueles que vai em TODOS os jogos, que tem todos os itens vendidos pelo clube, e que tem a decoração de casa inteirinha do time. Detalhe que às vezes o time chega a jogar 3 ou 4 vezes por SEMANA!
Bom, esse “pequeno” detalhe fica oculto no início do namoro porque a temporada dos jogos ainda não tinha começado. Os amigos do Jimmy o aconselham a contar isso para a Drew porque realmente é algo bem importante para ele e todas as namoradas anteriores do Jimmy não suportaram ficam com ele por causa do fanatismo. Então, eis que chega o dia da revelação. Ele faz todo um suspense para contar e a Drew começa a ficar com medo. Então ela diz: “Lá vem a sacola de cabelo”.
Uma amiga da Drew tinha a mania de mexer nas gavetas e armários dos namorados para procurar coisas esquisitas, para tentar averiguar se eles eram “normais”. Pois bem, um dia ela estava na casa de um namorado e quando ele saiu ela achou uma sacola bizarra no armário. Era uma sacola com várias mechas de cabelo, ou seja, de pessoas diferentes. A amiga da Drew ficou apavorada e resumiu que o namorado era psicopata. Claro que ela “fugiu” e depois contou a história para a amiga. Resumindo, a Drew estava tão feliz no relacionamento mas tinha os receios iniciais, então sempre ficava se questionando quando viria a descoberta bombástica sobre o Jimmy. Well, a sacola de cabelo que a Drew descobriu não era tão ruim assim, era só o Boston Red Sox.  Bom, durante a vida conhecemos muitas pessoas e algumas delas (ou muitas) podem ter “sacolas de cabelo” escondidas. Que medo!
No final do filme... Eu não vou contar, não se preocupem!

Saindo do cinema para a vida real, quero contar sobre o meu curso de Francês. Vou à escola de segunda a sexta e confesso que todo o ritual tem me lembrado a época do colégio. Comprar caderno novo, ter um estojo com canetas coloridas (eu sempre adorei!), fazer lição de casa, e também brigar com os colegas de classe. Mentira, eu não briguei com ninguém.
Minha professora é adorável e minha sala possui aproximadamente 12 pessoas. Há gente da Rússia, da Ucrânia, da Sérvia, da Coréia do Sul, do Japão, da Colômbia, dos Estados Unidos e também 4 brasileiros. Somos a maioria e deu vontade de cantar: “Tá dominado, tá tudo dominado...”  Na festa de despedida do curso vai ter feijoada e coxinha, oba!!
E eu nem preciso dizer qual é o pessoal mais “metido”, né? Um deles, “daquela terra”, não me cumprimenta quando me vê embora eu acene e diga “oi”. Eu aposto que ele vota no Donald Trump! Será que ele tem uma sacola de cabelo escondida no armário? 
Acho que é melhor deixar de lado o “mimimi” adolescente e ser mais madura, né? 

Au revoir, meus amigos!

Hívina

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Chovendo na Lasanha!?

Paris, terceira semana

Bonjour, gente!
Essa terceira semana em Paris foi bem corrida! Após andar de carro pela cidade, me deparei com uma cena interessante num lugar um tanto mais popular: o metrô. É muito comum ver músicos se apresentando nos corredores das estações. Há até um mini “concurso” feito para escolher quem poderá tocar nestes locais e os ganhadores ficam autorizados a se apresentar e podem angariar seus fundos, que eu prefiro chamar de couvert artístico em vez de gorjeta ou esmola. Fato é que não é comum eles tocarem dentro do vagão do metrô, e sim apenas nos corredores das estações. 
Pois bem, Samuel e eu pegamos o metrô e eis que em uma das paradas uma senhorinha entra com uma caixa de som e microfone em um carrinho, acompanhada de um senhor com escaleta, aquele instrumento que parece um “mini teclado” e que também é soprado (músicos, não fiquem bravos!). Ela coloca o playback e começa a cantar música francesa. Minha vontade é de rir muito, por conta da situação engraçada. Samuel fica contido e olha sério para mim, com puro medo de acharem que eu estou zombando. Estava zombando nada, é que uma senhora cantora, dentro de um vagão em Paris? Eu ainda sou meio turista, não estou acostumada. 
Após a música francesa, ela escolhe a da sequência e o vagão inteiro começa: “Nossa, nossa, assim você me mata, ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego...” Michel Teló, obrigada! Nem Samuel aguentou! Todo mundo começou a rir e a dançar, nem que seja mexendo os pés. Ela cantou a música inteirinha em português perfeito, fiquei bem impressionada. E, me senti mais perto do meu povo.

Mudando do metrô para a parte da comida, algo muito importante na minha vida, jantamos na casa de amigos no último domingo e o menu teve “lasanha”. Ai, que delícia, comida brasileira! Quer dizer, comida italiana, mas que lembra tanto nosso Brasil que podemos chamá-la quase de brasileira. Não sei vocês, mas eu sempre como lasanha nas festas de final de ano. Acho que esse prato tem um “quê” de nobre para nós suburbanos.
Esse jantar com lasanha me fez lembrar de algo engraçado. Quando eu era pequena e não sabia ler, aprendia as coisas principalmente repetindo os outros (como a maioria de todos nós, eu acho).  Isso se aplica nos gestos e movimentos e na linguagem. Enfim, eu gostava muito de cantar, então, repetia a letra das músicas de acordo com o que ouvia. Descobri que eu tinha uma imaginação bem fértil e também um ouvido bem ruim (isso não é mais novidade). Meu irmão me contou que eu cantava músicas com letra sem sentido nenhum. Como por exemplo, “Lálá, está chovendo na lasanha...” Ou, uma outra que dizia: “Um barquinho na floresta, de Jesus o Rei dos Reis...” Oi? Chovendo na lasanha? Barquinho na floresta de Jesus? Meu irmão tirava o maior sarro de mim, dizia que eu era a pior compositora de todos os tempos. Eu não concordava porque eu não lembrava de ter inventado nada. 
Anos mais tarde, estava vendo televisão e, passando pelos canais, ouço uma música: “Lá,lá, está chovendo na fazenda...” Para tudo!!! Essa era a música, gente! Eu não estava doida! Saí toda feliz contando para o Saulo (meu irmão) que essa era a minha música e que eu só tinha mudado a letra um POUQUINHO. A música do barquinho eu confesso que ainda não achei...

Mas isso não para por aqui. A maior heresia de todas foi na Igreja. Lembro de um hino muito bonito, o número 44 do livro, que começava assim: “Amaste a mim, Senhor, ainda cintilante...” Fato é, gente, que eu cantava de outra forma: “A Márcia Bin, Senhor, ainda cintilante...”
Márcia Bin era a regente do coral, mãe de amigas minhas. É mulher de personalidade forte, muito inteligente e culta. Eu cantava o hino e imaginava a Márcia toda cheia de purpurina, afinal a letra dizia “cintilante”. Eu afirmava a mim mesma que ela deveria ser mesmo muito importante para Deus, afinal estava no hinário da Igreja Presbiteriana Independente de todo o Brasil.
Quando eu comecei a ler e descobri o que eu cantava fiquei feliz de ninguém ter descoberto tamanha atrocidade. E quando me tornei adulta sem vergonha contei essa história para a Márcia, que riu muito! 
A Sra. Bin atualmente é avó e dá show regendo o coral das crianças. Acredito que minha letra adaptada era na verdade uma profecia, Márcia é muito cintilante com esses netos e com toda essa criançada.

Um excelente final de semana para você, com muita lasanha e purpurina!
Ah, bom CARNAVAL aí no Brasil!
Au revoir,

Hívina